SUZANNE FERLANDL | "Des Siècles et des Siècles" | Open Studio
29 Junho 2017 19h00
Suzanne FerlandL
Des Siècles et des Siècles
29-30 Junho | 2017
As suas acções artísticas anteriores, suas leituras passadas e recentes - entre as quais dois artigos que relatam as pesquisas da socióloga Analia Torres sobre a condição da mulher em Portugal - e as atuais correntes políticas e religiosas internacionais, levaram-na a questionar-se mais sobre o lugar da mulher na sociedade contemporânea.
Como é possível que os direitos das mulheres, que consideramos adquiridos após duras batalhas, possam ser facilmente questionados em 2017?
De acordo com as investigações feministas, as mulheres portuguesas demonstram que é possível, em uma geração, elevar o nível educacional da mulher, permitindo que alcance um lugar em sua busca pela igualdade de gênero. A nova geração é seis vezes mais instruída das que as mães que as apoiaram. Em Portugal, 65% dos estudantes acadêmicos são mulheres. Nenhum outro país europeu tem tal evolução. No entanto, as disparidades persistem. Com competências e tarefa equivalentes, o salário da mulher é menor de 20 a 30% do que o do homem. A partilha dos trabalhos domésticos permanece inigualável, onde a mulher assume a maioria das tarefas.
Surge a pergunta, uma vez que a falta de estudos é claramente menor e não explica a diferença salarial, se essa diferença não é mais uma maneira de controlar a mulher para evitar que tome sua independência uma vez por todas.As disparidades entre homens e mulheres são devidas ao sistema ideológico patriarcal em que vivemos há muito tempo?
Suzanne começou a desenvolver um corpus de obras como pretexto para refletir sobre essas questões. Assim como as bordadoras e recamadoras portuguesas, lembrando as mulheres que trabalharam duro para assegurar a educação de suas filhas, reservando-lhes o salário, a artista juntou-se a elas num ritual diário: moldar, imprimir, recortar centenas de silhuetas femininas.
Instalação:
Colocadas na parede, uma ao lado da outra, as silhuetas recortadas de uma gravura realizada pela artistas, estão de pé, muito rectas, de mãos dadas em frente ao espectador. Eles, meninas e mulheres, expressam a força e a solidariedade para as mudanças. Levam-nos a seguir a sua procissão para a segunda sala onde ocupam um território, continuando a cadeia humana nas paredes.
Esta cadeia integra 4 pinturas de 210 por 45 cm. Desenhados com um lápis de grafite sobre papel chinês, esses painéis recorrem a variados símbolos que compõem a coleção pessoal do artista para expressar o peso suportado pela mulher no seu progresso em direção à igualdade.
No chão, adotando uma forma circular, mais de 200 silhuetas femininas juntam-se uma com a outra para formar uma obra única que ocupa o centro da sala. Neste tondo são colocadas 5 casas cor-de-rosa e o molde de uma chave em cera. A cifra 5 simboliza o tempo da consciência; não expressa um estado, mas sim um acto. A chave é símbolo de abertura (iniciação) e fechamento (discriminação).
Durante os dias de exibição, desejando a participação do público no trabalho, a artista convidará os visitantes, mulheres e homens, a escrever o primeiro nome das mulheres da sua família nas silhuetas do tondo.
Acção artística:
Outra maneira de comemorar o compromisso de nossas mães e o trabalho das mulheres, foi criar uma série de caixas para uma ação artística. Estas caixas são casas cor-de-rosa (esfera privada onde a mulher ficou confinada por muito tempo), da qual podemos tirar uma pedra (alma da humanidade) esculpida com um rosto genérico, embrulhado num bordado português. Uma mensagem sublinha o avanço da mulher em Portugal e encoraja a perseguir a igualdade acompanha a pedra. Essas caixas, dadas a uma delegada da UMAR, circularão no início entre os funcionários da associação e então, de mão em mão na península portuguesa.
Furtive art:
A artista foi para a biblioteca central municipal de Lisboa. Na seção História, numa enciclopédia portuguesa (Enciclopédia da História Mundial Humana), inseriu na página 111 de cada um dos 11 volumes uma silhueta feminina (1 é símbolo da mulher de pé). Em cada silhueta são registradas em francês e em português as palavras ela e sem esquecer. Esta acção visa, simbolicamente e materialmente, a colocação da mulher nos livros de história, dos quais é muitas vezes deliberadamente omitida.
BIO: Suzanne FerlandL vive e trabalha no Basses-Laurentides, Quebec, Canadá. Obteve um diploma de criação de artes plásticas da Universidade de Quebec em Montreal. É iniciadora e directora do Sentier Art3 (sentierart3.com),em parceria com o Museum of contemporary art of the Laurentian, um evento anual de arte pública que acontece numa floresta. Uma das características dos seus projectos artísticos é que evoluem no tempo com a colaboração do público, convidado a aparecer, interferir e interagir com o trabalho. Em 2014 recebeu uma bolsa de viagem do Conseil des Arts et Lettres du Québec (CALQ) para uma residência de criação em Lijiang (China), o outra o ano seguinte para residir três meses numa Fundação em Espoo, na Finlândia. Nos últimos dez anos participou em mais de vinte exposições coletivas e individuais. As suas obras fazem parte de várias coleções públicas e privadas.
The residency is supported by Conseil des arts et des lettres du Quebec