I-STOCK

1 Novembro a 21 Dezembro

I-Stock

INAUGURAÇÃO | 1 de Novembro 2019, às 19h00
PATENTE | 2 de Novembro - 1 de Dezembro, 2019


I-Stock é uma exposição multimédia anónima. Ao propor uma série de pinturas digitas que são de facto reproduções de fotografias comerciais retiradas da Internet, referencia o discurso do status das imagens comerciais nas práticas da arte contemporânea.

Como a fotografia experimenta uma crise ao definir-se como um meio artístico na era digital, esses processos de apropriação parecem soar mais verdadeiros, mais autênticos, mais relevantes se associados às maneiras como a fotografia funciona no mundo hoje.

Se considerarmos uma estética que defina a fotografia de stock, a sua natureza arquetípica seria descrita como especificamente comercial, onde a imagem é cuidadosamente composta, artificialmente iluminada, com cores vivas e uma consciência de seu planeamento e resultado orquestrado. Arquivadas em bancos de imagens, são fotografias “prontas para o uso”, sem originalidade e sem personalidade usadas para suprir as necessidades dos trabalhos da área de design, publicidade e propaganda. É uma fotografia fluída e maleável como um objecto de design gráfico, imediatamente intercambiável a partir de um arquivo de opções semelhantes que podem ser aplicadas a uma infinidade de contextos de acordo com as necessidades. Como a fotografia de stock deve ser vaga o suficiente para se relacionar com diferentes tipos de pontos de venda, a imagem é construída para simbolizar valores universais e posições neutras. Dessa maneira, é uma fotografia inerentemente silenciosa, ininterrupta e deve servir como pano de fundo ou preenchimento.

Por um lado, a fotografia de stock representa um ponto culminante do que o médium tradicionalmente aspirava a ser uma prática especializada, icónica e produzida de maneira profissional, com atenção cuidadosa à iluminação, exposição e composição. Ao mesmo tempo, é também a morte das suas aspirações como um meio artístico, resultando numa estética de natureza monótona, redundante, sem inspiração e sem hierarquia.

Num certo sentido, o exame da realidade fotográfica proposto em "I-Stock" insinua uma crítica pessimista, embora muito silenciosa, reconhecendo a crise da fotografia, onde o valor estético da imagem é um produto do domínio comercial. Chegamos a um ponto em que a reprodução sem fim do mesmo é tudo o que resta; imitar silenciosamente os seus aspectos visuais. Esta crítica vai além do conceito de espectáculo de Guy Debord, uma teoria social e política que examinou os efeitos de uma sociedade saturada por imagens mediáticas. Tal discurso que segue uma crítica finalmente marxista (e uma potencial emancipação) parece não se aplicar mais neste estágio avançado da nossa sociedade das imagens.

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Com curadoria da Zaratan, a exposição I-Stock constitui o segundo capítulo de um ciclo de experiências estéticas que pretende explorar os limites das instituições artísticas através da promoção de exposições anónimas de artistas conhecidos. Ultrapassando as camadas complexas das autorias, das eponímias e das representações contemporâneas, o anonimato tem o potencial de fortalecer as constelações estéticas e culturais do espectador individual.