QUERIDA, MUDEI A CASA de Henrique Neves
4 Junho a 27 Junho
Querida, Mudei a Casa cria um diálogo entre as práticas de arquitetura, decoração e arte contemporânea e questiona a maneira como essas práticas são vistas e valorizadas.
O trabalho partiu da Zaratan, como espaço, e de um fac-símile de uma exposição de arquitetura.
Historicamente, e tradicionalmente, a decoração não é vista como arte, mas como uma prática menor que existe dentro de um contexto doméstico ou de arte popular. Crucialmente, tal é muitas vezes enquadrado em relação a género - decoração é feminina, arquitetura (tal como arte!) é masculina. Decoração é geralmente anónima, os praticantes não são identificados, enquanto os arquitetos são conhecidos, nomeados e transformados em heróis. Adicionalmente mulheres muitas vezes aparecem em textos arquitetônicos como objetos decorativos em si, e homens que trabalham em artes decorativas são vistos como efeminados.
Ambas as práticas de arquitetura e decoração existem na minha história pessoal. O meu avô era foi construtor civil, a mão dele costureira, a minha irmã era arquiteta, a minha mãe trabalhou, profissionalmente e domesticamente, com costura e decoração.
Como artista, tento fazer pontes entre todas estas áreas e e cada uma tem uma ressonância pessoal. Misturo-as nos meus trabalhos via formas e materiais tradicionalmente vistos como femininos (plantas, têxteis, etc.). Querida, Mudei a Casa é ambígua a nível de género - é um homem que conversa com um homem, ou uma mulher com outra mulher, ou algo diverso? Questiona a validade de categorizações celebrando práticas que não precisam da minha validação (masculina) nem da validação do mundo da arte. Existem, questionando porque são excluídas e vistas como inferiores. Querida, Mudei a Casa torna-se um gesto de desafio perante uma fortaleza estética.
A passadeira de carvão refere o facto de o corredor ter sido o lugar de armazenamento de carvão e de ser um local de passagem, com uma identidade espacial pouco marcada. O ouro falso desenha um quadrado perfeito (1m x 1m) em duas paredes irregulares. Tem ecos na grelha modernista e liga as diferentes peças. O ato de intervenção, utilizando o livro de arquitectura Modern Architects, com as suas imagens monocromáticas, plantas e discurso textual concebidos para transmitir a "seriedade" da arquitetura, é um ato iconoclasta brincalhão, acrescentando cor, textura e padrão, todos vistos como expressões femininas de liberdade criativa.