ASSIM FALAVA O GATO DE CHESHIRE de Alexandre Oriano

29 Janeiro a 8 Fevevereiro

Ao traçar uma distinção crucial entre dissimulação e simulação, Baudrillard implica que ambos
os termos envolvem um fingir e um aparentar, mas enquanto a dissimulação máscara a
realidade acabando por reafirmá-la, a simulação devora o real e, como um gato de Cheshire,
deixa para trás nada mais do que sinais comutativos, simulacros auto-referenciais que fingem
uma relação com um real obsoleto.

A frase é de Steven Best em The Postmodern Turn para se referir à crítica da alienação feita pelo filósofo Jean Baudrillard, uma que transcende a que foi feita pelos Situatiocinistas à sociedade do espectáculo ao afirmar um ponto determinante: hoje já não existe um real a recuperar por detrás de uma suposta máscara ideológica. O que hoje existe é simulação e nada mais do que isso.
A partir de um programa open-source com um algoritmo criado pelos cientistas informáticos israelitas Moni Naor e Adi Shamir em 1994, cada imagem foi processada e gerou dois shares. Este processo constitui uma forma elementar de criptografia visual: cada um dos shares aparenta ser uma trama caótica e pixelizada, mas quando sobrepostos na orientação correcta revelam aquelas imagens ordenadas. No site onde o programa se encontra descarregável, o criador Robert Hansen declara o seguinte: "Para que é que isto serve? No mundo da criptografia real, não serve de muito."
Serve este exercício para encontrar uma aplicabilidade no contexto das práticas artísticas contemporâneas. Ao distribuir os shares pelos galeristas e por alguns dos visitantes, está a distribuir-se o acesso ás imagens originais, o que é uma forma específica de distribuição de poder, se se tiver em conta que cada uma das imagens desbloqueia uma "tomada de decisão" específica. São desbloqueáveis tomadas de decisão acerca do valor, da disposição física e da compreensão a situação expositiva em causa.
Apesar de se criarem relações entre indivíduos nesta espécie de jurisprudência semi-democrática, essas deixarão para trás nada mais do que "sinais comutativos, simulacros autoreferenciais" próprios de uma era em que a liberdade é uma ilusão estética - Assim Falava o Gato de Cheshire.